quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

A Fotografia e o Acaso - Ronaldo Entler


Muitos e variados textos fazem as delícias do meu pensamento fotográfico. Alguns pelo seu maior interesse ou desafio (opção pessoal é certo) vão aqui sendo destacados. Este é por certo destinado a provocar intensas interrogações.


http://libdigi.unicamp.br/document/?down=vtls000093499

domingo, 14 de fevereiro de 2010

inside _06_msr_08

Desafio sinto ao redigir estas leves linhas sobre o trabalho desenvolvido por Domingos Caldeira, Francisco Feio, Luis Carvalhal, Luisa de Sousa e Miguel Saavedra membros do grupo “equivalentes” a que Luis Carvalhal adicionou a sua visão gráfica.

Tenho pautado a presença neste “blog” por registos de endereços que nos lançam ao encontro de textos teóricos sobre a “Fotografia”, hoje arrisco-me a escrever dessa mesma fotografia. Da fotografia que os autores em causa nos mostram no seu trabalho _06_msr_08 _fotografia.

Obra.

Grande e interessante a obra que serve de base ao trabalho desenvolvido pelo conjunto de fotógrafos que fazem parte do grupo "equivalentes", e que em torno do trabalho de recuperação do museu de S.Roque desenvolveram um auspicioso percurso temporal e imagético.

Trabalho de altíssima qualidade o desenvolvido a que uma leitura pessoal de cada autor não provoca desiquilibrio quanto ao todo e a que a apresentação final, em livro, se enriquece num trabalho gráfico de grande qualidade.

O percurso, que através dos autores nos é proporcionado, além de assumir o controlo temporal dos factos, conduz-nos num trajecto emocional em que a Luz marca o discurso da imagem como que aguardando o esplendor final. De um rigor quase métrico o trabalho é de grande precisão sem se tornar rigido tornando mesmo belo o que a Luz não mostra.

O percurso pelas cerca de 200 páginas de fotografias são de uma coerência sem mácula. Quase acompanhando um divino percurso a que não falta para satisfação dos mais professos, a sensação de um tempo de peste, pela presença de panos como que envolvendo corpos a que não faltará a redenção da Luz.

Espaços vazios, aqui e ali planos marcados pela suave presença delimitadora de uma Luz afirmando a redenção futura. O Sacro envolto em panejamento protector. O vislumbre da rotura para prenúncio de uma gloriosa ressurreição. Portas entre-abertas, recantos de memórias e a Luz percorrendo contornos anunciadores de mudança.

Uma constante representação de um momento específico que antevê na sua existência morte anunciada para benefício de ressurreição prometida.

Pedaços de Luz quase sem limites para lá de um diluir quase respirado. Ou serão sussurros de corpos atacados pela peste de que quase se sente o odor bafiento pulsando calores húmidos e sempre esperando o brilho de dourados que por fim explode das mãos restauradoras de cores e Luz. Aí, qual sacrilégio, o humano ganha o direito de favorecer a representação do Dívino, intensificando a força incandescente da Luz que no dourado ganha novo fulgor, antecedendo o percurso, finalmente despontando, em linhas que marcam trajectos protectores de habitantes silenciosos.

Silenciosos, que não mudos.

Pois se repovoado foi o espaço a que a peste deu origem e a Luz saiu vencedora sobre os desígnios de uma morte a que o trabalho dos homens deu nova vida.

O discurso de um interior em mudança, tornado presente em continuação de passado, para futuro de um presente registado através da Luz essa sim que transforma através da Fotografía o passado em futuro feito presente.

Refiro ainda o equilíbrio entre os autores, que poderiam através de linguagem pessoal anterior, desiquilibrar o discurso do presente trabalho. Percorrer as diversas páginas em que um muito agradável conjunto de trabalhos foi deliciosamente observado em sintonia perfeita (a grande aproximação ao meu tema de eleição - o interior e a sua relação com a Luz) tornou ainda mais enfática a apreciação do material proposto pelos autores e estimulando um olhar que percorreu deliciado o conjunto de fotografias proposto no interior do museu de S.Roque e que nobremente acompanham o riquíssimo património aí exposto.