terça-feira, 21 de junho de 2011

O Renascer do Preto e Branco

O Renascer do Preto e Branco
António Campos Leal
O ressurgimento do Preto e Branco em diferentes espaços vocacionados para a Fotografia, faria supor, um aumento do sentido critico e estético dos autores que produzindo ou utilizando o suporte fotográfico enveredam pela opção em tons de cinza.
E, citando Ivan de Almeida  "Os fotógrafos modernos, tiveram a eles transmitido o bastão da fotografia, e nessa transmissão (tradição), receberam um modelo que foi gerado, em partes muito importantes dele, pela fotografia em Preto e Branco.", in " O Paradoxo da Fotografia Digital em Preto e Branco – parte 1", http://fotografiaempalavras.wordpress.com/2010/11/02/o-paradoxo-da-fotografia-digital-em-preto-e-branco-parte-1/#comment-581
Ora tal não está acontecer.
É que se em alguns casos essa "tradição", entre comas pois não perfilho a expressão, a discussão não é de tecnologia mas de discurso estético; pode servir a desafio estimulante, não deixa de ser contraditória a forma como algumas opções são fruto de um total desconhecimento da razão que sustenta a utilização do preto e branco no que ao reforço de signos e significados está intrínseco nessa opção de trabalho.
É fácil, ao percorrer os muitos trabalhos apresentados, descortinar a insatisfação do autor perante a fotografia obtida a cores e daí ao salto para os tons de cinza vai um passo. Para sermos mais correctos, um simples "clique", e assim de uma foto a cores de qualidade duvidosa, alguns autores trilham o caminho mais fácil enganando-se a si próprios e apresentam uma enfatizada fotografia "Black&White".
Para desconforto pessoal verifico não serem só os amadores de momentos felizes, são mesmo os amadores mais entusiastas e os pós-cursos de fotografia e mesmo alguns fantásticos fotógrafos que enveredam por um percurso de duvidosas estéticas e sem retorno possível. Os maus hábitos vão tornar-se vícios que acompanharão o trajecto criador de muitos autores.
Tenho pena. Mas parece não ser para a maioria deles, erro a ser criticado, por vezes é melhor nem fazer algum reparo. Ficarão ofendidos e por vezes seremos para eles meros detractores ou no mínimo, Conservadores e não contemporâneos.
Autores menos capacitados encontram com frequência na alternativa de amostragem a preto e branco o refúgio de uma velha expressão ouvida em algumas bocas de gente menos habilitada, "boa fotografia é a preto e branco", porventura a melhor interrogação será sempre o que é uma boa fotografia e a preto e branco ou a cores quando boa será sempre por outras razões que não a da opção cromática. A opção cromática é ela mesmo razão de sustentação de uma qualidade intrínseca a que outros parâmetros estarão na base dessa sustentação de avaliação, e que muitas vezes começa no motivo da mesma passando pelo enquadramento e pelo discurso lumínico.
A opção pelo preto e branco baseia-se (desde que opção inteligente) numa opção de cariz estético na procura de um discurso pessoal que percorra signos e significados que facilmente se identificam e caracterizam. Já, quando a opção é salvar um trabalho de reduzida ou nenhuma qualidade nada sairá reforçado.
Hoje, em que uma imensa maioria da fotografia posta perante nossos olhos é resultado de uma captura digital, deixa de existir o suporte de retenção de uma imagem na escala de cinzentos. A captura dá-se a cores, pois no sensor a representação de cada cor tem nos pontos Verde, Vermelho e Azul a razão do seu registo o que definirá a inexistência de uma imagem em tons de cinza. Só a opção pela apresentação a PB permitirá ler a imagem a PB, se registado em ficheiro RAW a imagem será sempre passível de existir na sua representação do espectro da cor e em que o autor decidirá das muitas opções a tomar quanto à sua representação final. Já a decisão em fotografar em ficheiro JPEG e a opção de trabalho a PeB determinará a apresentação final a Preto e Branco.
Decidir de um "trabalho" não pensado a preto e branco transformá-lo numa apresentação final na gama tonal dos cinzentos é opção que pode ser tomada mas pode facilmente trilhar caminhos que desvirtuam o discurso que está na base do material recolhido e pode vulgarizar o pretendido.
Nem o discurso da luz terá mais força nem os elementos representados terão algum significado. Não se salva um mau trabalho pela sua conversão de cor em "preto e branco", disfarça-se sim mas só para alguns observadores menos atentos.
Concretizando, disfarça-se mas só para observadores ao mesmo nível dos produtores que assim maltratam os seus trabalhos. Quem do Preto e Branco tem uma observação coerente e sustentada percorrerá caminhos mais exigentes e também mais frutuosos. O atingir de uma coerência que acompanhe os trabalhos produzidos será uma dominante da obra e que os mais exigentes saberão reconhecer. O resto ficará pela mediania. Receberão uns "Like" e uns "fantástica" de uns quantos e que convenhamos não irá abonar em nada a obra de tais autores. Para eles os meus votos de felicidades.  E não posso terminar sem acrescentar o quão importante é a leitura de uns quantos textos teóricos e que pela falta de textos em português e pela pouca importância dada a quem teoriza em português não deixa de ser coberta pelas diferentes propostas existentes em inglês e que uma busca cuidada colocará perante os olhos dos interessados.
Boa leitura e boas deduções.