É
variada a proposta da Fotografia que encontramos ao alcance de um clique.
Biliões de belas fotografias se apresentam perante o nosso olhar, muitas vezes
de autores completamente desconhecidos. Aos milhões pululam na "rede"
fazendo a delícia do olhar de muitos.
Umas
vezes é o exotismo do lugar registado, outras a personagem exótica de um
qualquer ponto desta globalizada aldeia em que a Terra se tornou. Processos
mentais repetidamente globalizados, trazem até nós repetidas representações de
uma imagem globalizada. A simpatia por animais, selvagens ou não num mundo de
antipatia entre humanos, domesticados por vezes e em que a representação dos
afectos se vai tornando a vulgarização de referentes por demais conhecidos. O
prazer libidinoso da representação narcisista do corpo. A amostragem de um
poder na ponta de uma arma ou menos intensa mas por vezes não menos
provocatória a sustentação desse poder nos cavalos de potência da veloz máquina
que se conduz.
Outros há que reservam para representação velhos ícones
de épocas já ultrapassadas. Ou mesmo a ruína das mesmas. E em que, símbolos de
poderes caídos por terra, servem à representação de humanos anseios a que a
fotografia de alguns dá alento, ou escava mais fundo para que enterrados e
soterrados, não tenham a possibilidade de se elevarem.
A
realidade é muitas vezes apenas um esfumado na representação da fotografia
actual. Mas não estaremos já perante uma realidade irrepresentável. Percorrendo
o olhar sobre os milhares de fotografias que conseguimos absorver, para leitura
da sua representação vemos diluída a possibilidade de interpretação das mesmas.
A
maioria dos executantes, por si só, passam de meros retentores de momentos não
interpretados, para um produto acabado eivado de uma manipulação que esvazia a razão
que serviu de matriz à sua opção. Sente-se cada vez mais a transposição do
vazio vivido, para o vazio de conteúdo. Muitas vezes até por excesso dos
elementos representados.
A
simplicidade de representação de trabalhos que recheados de significado, se
perdem, entre a atracção que exerce sobre o observador, os trabalhos carregados
de elementos observáveis e que provocam uma leitura tumultuosa do representado,
são uma constante.
Olhar
não significa que se veja. E ver não é obrigatoriamente um caminho para o
pensar. A Fotografia surge no caminho do autor como uma forma tão complexa
quanto ao conteúdo quer quanto ao destino da Obra. Do viajante, ao mero momento
de convívio talvez nada tenha mudado, a não ser a facilidade de registo. O que para
mim é razão forte para entender que o vazio de pensamento entre as opções
actuais aparecem demasiado coladas ao trabalho realizado.
A
Fotografia como produto de consumo escapou por entre os dedos a uma élite que
julgava dominar o processo e, entretanto, uns quantos acreditaram que se tinha
dado a democratização do processo. Não, a Fotografia não se democratizou,
apenas se tornou implicitamente um produto de consumo. E, como qualquer produto
de consumo não se tornou um produto de excelência.
A
democratização do pensamento e do elemento cultural seria razão suficiente para
sustentar a democratização da Fotografia. Assim apenas podemos afirmar que a
Fotografia tem aberto a porta para a homogeneização do estar de uma sociedade
que tende para a imitação dos comportamentos. Começando por se imitar entre si
na Fotografia que produz e anulando por completo a ideia que abriu o texto.
29052014
António Campos Leal