Visão e prática da Fotografia
Ao encetar o percurso do digital a Fotografia abriu novas
possibilidades em diferentes aspectos da sua execução. Do exponencial reduzir
nos custos do seu uso diário, a fotografia em sais de prata fazia o percurso
contrário, o custo da Prata, o custo da água e o aumento das exigências
ambientais tornavam o custo dos diversos materiais tão alto que quase se
tornava proibitiva a prática intensa do processo.
Ao surgirem as propostas digitais era entendido por todos
que os gastos na investigação de tal processo só provocaria o retorno do
investido se rapidamente o processo se massificasse. Assim tal não demorou a
acontecer e rapidamente o velho slogan da Kodak "Fotografe que nós fazemos
o resto" se transformou em "fotografe e faça o rseto", assim
após a retenção da imagem a própria impressão ficava nas mãos do utilizador, o
qual de forma mais ou menos capaz foi adaptando o seu "modus operandi"
a diferentes propostas de trabalho. Do mais complexo e pesado programa de
tratamento ao mais simples muitas ofertas era disponibilizadas pelo mercado e
abriam-lhe uma vasta panóplia de ferramentas a serem utilizadas nas mais
diversas situações.
A intensificação da oferta, a melhoria técnica dessa mesma
oferta deixava ao utilizador a possibilidade de adquirir uma câmara que era em
muito, mesmo nas propostas mais económicas, de qualidade muito superior às
propostas do tempo da fotografia sobre emulsão fotográfica. Mas, a facilidade
na execução e a vulgarização de colocação de fotografias em diferentes redes
sociais veio liberalizar um discurso que cada vez mais ficou dominado, pela
imitação, a um discurso globalizado e globalizante. A democratização do meio
tornou ditatorial a aceitação de um tipo de imagem ela mesmo resultado de um
discurso não intelectual e vazio dos conceitos que até então estávamos
habituados.
A imagem do sensacionalismo começou por dominar profusamente
o conjunto das imagens divulgadas. Tal sensacionalismo podia ir do sangue na
estrada ao sexo na estrada, no auge da representação, e a que não faltou a
profusão de comportamentos de prazer individuais e colectivos. Mas era notório
que a imagem fotográfica já não era a mesma. ferramentas diversificadas
permitiram alterar e manipular a apresentação do produto final. e a mescla em
diferentes formas de utilização multimédia abriram perspectivas de
diferenciação no que ao produto final se observou.
Mas, a massificação
intensiva da proposta acabou vulgarizando os diferentes discursos e hoje
assiste-se a uma busca da individualização do trabalho final. Autores diversos
partem ao encontro de novas e velhas formas de produção da imagem fotográfica e
a que não deixa de estar presente um vasto conjunto de técnicas que foram o
embrião da própria fotografia, sendo mesmo de referir os muitos que perante a
não existência de diferentes produtos que com alguma facilidade ainda eram
encontrados à venda em finais do século passado, se dediquem intensamente na
manutenção de técnicas que fizeram parte do caminho da
investigação desenvolvida no século XIX, gatinhava ainda a Fotografia num
caminho de muitas incertezas. Incertezas que por certo são hoje substituídas
por outras mas que autores mais aplicados e estudiosos mais afoitos vão
esmiuçando na procura de novas realidades. Mas sempre com uma interrogação.
Mas afinal o que é isto da Fotografia? E o que é um
Fotógrafo?
António Campos Leal