segunda-feira, 6 de junho de 2016

Hoje Escrevo Eu - Fotojornalismo

"Steve McCurry, el escándalo de una leyenda de la fotografía"

http://www.elmundo.es/grafico/cultura/2016/06/01/574df213e5fdeae10b8b4600.html

Vários foram os textos lidos em torno da questão titulada pelo "El Mundo". Por cá nem um texto sério. Nem as "criticas" passaram para além da questão do uso despudorado do tratamento digital, alterando dessa forma a representação do "real", sendo que para mim o real está para além da representação fotográfica. O real é por certo uma das mais falsas catalogações que se pode dar à Fotografia. A representação do que se vê é uma busca e não um fim. A própria representação inicial da Fotografia é do mais falso que se pode observar. Nesse tempo e face à baixa sensibilidade das emulsões, os tempos de exposição eram longos e daí as primeiras fotografias representarem construções estáticas. Não se mexiam, conseguia-se assim uma definição óptima dos elementos construídos. mas essas fotografias eram falsas. Nenhum humano, animal ou veículo aparecia representado. Mas eles andavam por lá. Mas eram demasiado rápidos. E assim nasceu um tipo "duro" em termos estéticos e que ainda hoje sofre essa influência. A Fotografia de Arquitectura. Já o Fotojornalismo levaria algum tempo a aparecer. E quando se dá o seu aparecimento ele é falso.

É uma representação encenada e resultado de duas características, o peso e dimensão do material empregue e a necessidade de uma visão idílica da guerra. Os cidadãos não deveria ser confrontados com o horror.





Alguns anos mais seriam necessários para que a emulsão visse reduzida a sua dimensão, O surgimento da película de 35 mm e a respectiva evolução, associado ao aparecimento da celebérrima Leica, de pequena dimensão e fácil manuseamento vai abrir uma nova forma para o percurso do Fotojornalismo. E assim surge uma nova forma de olhar o acontecimento e dele se destaca Erich Salomon.


Mas começava aí um percurso em que a representação do "real" era desde logo uma opção a que o repórter não fugia. Ele lidava com a mais classicista das artes, ou técnicas, como preferirem. A sua escolha, quanto ao elemento a fotografar era desde logo uma forma de manipular o contexto. Cedo se começou a eliminar personagens das fotografias. Muitos e variados trabalhos abordam a questão.

O peso dos afectos ou da ideologias e dos interesses económicos vão influenciar o material recolhido. Já o processo de representação estética vai encontrar nas diferentes construções ópticas e na variada (sempre em crescendo) proposta de emulsões e em que os papeis são os que exponencialmente mais crescem, facilitando dessa forma o trabalho aos impressores. Do aspecto dramático ao mais suave dos contrastes a possibilidade de variar o produto final e dessa forma provocar a "leitura" desejada e assim o impacto mais intenso de uma representação factual a preencher o espaço jornalístico. Os interessados na questão podem hoje percorrer a Historia do Fotojornalismo ao longo de mais de 150 anos e com relativa facilidade encontrarão exemplos bem representativos deste meu pensamento discursivo. Mas, hoje, tudo se parece alterar de forma tempestuosa. É a "verdade" do digital. Muito pouco verdadeira. Tudo muda com muito mais forte intensidade. Tudo se manipula. Nada resta da imagem inicial. As pessoas são tentadas a que o produto que vão mostrar seja o mais belo ou o mais terrífico. Por cá brinca-se às discussões sérias. E basta ler alguns comentários em torno da noticia que abre este texto. Para muitos o Fotojornalismo pouco mais é que as fotos dos "craques" do futebol ou das garotas dos "padocks" ficando a discussão muito pela rama.




Por cá a manipulação é mais ao nível do conceito que se enraíza na forma e no conteúdo. Há pouco jornalismo de exigência e que ultrapasse a estagnação editorial. Os autores "actores" são bons, ou talvez não. Mas são sofríveis. Não sabem é o que é Jornalismo, para lá dos chavões da redacção a que pertencem. Cumprem a encomenda. Mostram o equipamento que os afirma e pouco mais. O processo que os vai trucidando é muito forte. E a qualidade do jornalismo muito medíocre. São fotos de circunstancia. outras vezes os exageros de umas figuras "típicas" que atraem comentários jocosos. Vezes outras uma " socialite" da nossa praça. E assim uns vão bem e outros mal Em especial o Jornalismo.

Talvez me tenha afastado do assunto de abertura? Talvez! Talvez não.