quinta-feira, 16 de setembro de 2010

"Sangam" - Carlos Cardoso - Museu do Oriente


Por razões várias quase perdia a oportunidade de sentir a força de um trabalho de cuidados extremos realizado por Carlos Cardoso em torno do Festival Khumba Mela e que titula “Sangam”.
“Para não se perder ou desorientar no Oriente, Carlos Cardoso voa como um pássaro ou coloca-se à distância da objectiva”, Paulo Varela Gomes, in texto de apresentação, da exposição Sangam de Carlos Cardoso.
E, nesse voo de pássaro Carlos Cardoso torna mais fácil o nosso voo de sonho sobre a realidade de uma Índia tão distante para muitos de nós. Mas, falemos dos trabalhos que Carlos Cardoso nos mostra até 19 de Setembro no Museu do Oriente a Alcântara-Mar.
Para quem não conheça o trabalho desenvolvido até aqui, por Carlos Cardoso, encontrará algumas referências de um ou outro autor conhecido. Pelo contrário, quem persiga a obra já produzida, e em que a Índia preenche uma vasta produção de Carlos Cardoso, não deixará de enquadrar Carlos Cardoso no naipe de autores que olham o Mundo e o trazem até nós quase como em reverência dos espíritos retidos no plano de uma obra fotográfica.
Este trabalho de Carlos Cardoso num classicismo sempre de uma constante modernidade, faz-nos sentir toda a intensidade de um culto, o Khumba Mela (de khumb=pote e mela=festival), este festival é o maior festival Hindú e acontece quatro vezes em cada doze anos. Quatro são as cidades que recebem este festival, Allahabad, Ujjain, Nasik e Haridwar. De doze em doze anos acontece o Maha Kumbha Mela (maha=maior) em Allahabad, em que milhões de devotos hindus se reúnem para se banharem no Sangam, local de encontro dos rios sagrados Ganges, Yamuna e Saraswati para se purificar, naquele que é o maior festival religioso do mundo.
É este fantástico momento ritualista que Carlos Cardoso trás até nós. E que, através de uma representação monocromática ( a Preto e Branco), nos possibilita uma observação cuidada e intensa de momentos únicos, a que cuidados enquadramentos e opções de formatos específicos, dão um maior intensidade dramática. Realço a qualidade dos enquadramentos em especial do formato panorâmico, em que o controlo das linhas de força reflectem uma suavidade de composição que quase ritualizam a própria observação das fotografias apresentadas.
Mas, há sempre um mas, a inexistência de um pequeno texto, dentro do corpo do pequeno catálogo, que agisse como nota explicativa de forma a permitir aos visitantes menos informados, uma melhor percepção dos factos representados.
O trabalho de Carlos Cardoso é um grande trabalho documental realizado com saber de conhecedor e a mestria de um fotógrafo que reflecte no seu trabalho as sensações de um momento a que o Homem adiciona todas as forças espirituais de ritos milenares. Um catálogo com alguma força mais, quer corpórea quer informativa, não desmerecia o entusiasmo da Fundação Oriente. Penso mesmo que o Museu do Oriente sairia valorizado.
António Campos Leal
Lisboa, 14 de Setembro de 2010