quinta-feira, 28 de abril de 2011

Instantâneo_

O Resultado de Um Estado de Espírito

      ©António Campos Leal

"Haveria uma duração na fotografia se ela é, por definição, a tomada de um instante?"
(algures num ou vários textos sobre Fotografia)

Sempre achei a designação de instantâneo como uma falsidade sem pecado. Começou a fotografia por uma imagem obtida a partir de uma longa exposição que gradualmente e perante as diferentes alterações tecnológicas, a que a caracterização das emulsões é a mais intensa, permitiu abrir caminho à realização do "instantâneo" a que o sujeito fotografado se tornou ele mesmo um instantâneo pelo fugaz do representado a que muitas vezes estava associada a admiração expressa na própria fotografia obtida.
Valorizável no seu "instantâneo" pela tensão das emoções, frequentemente uma análise cuidada a muita da fotografia observável em nossos dias, apaga essa noção de instante ou imediatismo para encontrar uma cuidada observação, preparação e não mesmo um longo tempo de exposição. Sim, porque comparar uma exposição de um segundo com uma de 1/125 avos do segundo será o mesmo que comparar uma exposição de um segundo com uma de dois minutos e pouco. Ora quando algumas fotografia são realizadas com tempos de exposição superiores ao minuto a ideia de instantâneo cai por terra. E, ainda aqui não foi equacionada a realização de variados trabalhos de grande qualidade de autores que encontraram e encontram na Fotografia Estenopeica os atributos para dar azo ao seu processo criador.
Deveríamos talvez corrigir a afirmação do parágrafo inicial para:
A Fotografia é por si só a tomada de instantes vários e que são por si só partes de instantes mais complexos. A Fotografia como representação de um longo instante a que cada autor, ou o mesmo, poderá subtrair um ou mais instantes com características e significados próprios.
Ou não seja a Luz a razão de informação e tal informação percorre o espaço à velocidade de 299.792.458 m/s e esse sim é um instantâneo que biologicamente não medimos.

Aqui fica o mote que pode provocar interessante discussão. Fico à espera.

terça-feira, 26 de abril de 2011

Fotografia Estenopeica

Recuperando um texto publicado na Revista ShareMag e numa altura que a Fotografia Estenopeica passa mais um "Worldwide Pinhole Photography Day" e a que uma exposição organizada por António Campos Leal no CDI_Maria José Salavisa em Óbidos, sob o titulo "ÓBIDOSpinholando" se associa na divulgação de um processo fotográfico em crescimento.

    ©Gregg Kemp 


  O domínio exercido pelo mercado da fotografia digital acaba reduzindo o interesse de quantos dedicando o seu tempo e interesse à Fotografia, temos que reconhecer, estarem mal preparados para desenvolverem produção interessante nas diversas áreas deste suporte. Os processos ditos alternativos nunca foram estimulados pelos mais ligados ao ensino das diversas especialidades e no que à Fotografia Estenopeica uns quantos apaixonados tendem a ser a voz que se quer fazer ouvir no ensurdecedor meio fotográfico.
De António Gonçalves a César Cordeiro várias foram as iniciativas ligadas à Fotografia Estenopeica antecedendo o seu Dia Mundial, que acontece sempre no último Domingo de Abril.
Um pouco por todo o lado várias referências podemos encontrar registadas nos eventos que a rede nos propõe.
António Campos Leal - A Magia Da Luz - Jornadas Estenopeicas - Dia Mundial da Fotografia Pinhole - Worldwide Pinhole Photography Day - The Magic Of Light/A Magia Da Luz, Jorge Pereira and Rui Cambraia - Large Size Pinhole Photography, César Cordeiro - Fotografia Estenopeica, Augusto Lemos - Workshop Pinhole, Imagerie/Casa de Imagens - Photography seen through a pinhole - Spontaneous Exhibition of Pinhole Pictures and Camera; em localidades que vão de Braga a Lagos passando pelas Caldas da Rainha, Vale de Figueira (Santarém) e Lisboa, acreditando mesmo que algumas outras localidades façam parte deste grupo mas que uma divulgação deficiente obstou ao conhecimento da actividade desenvolvida.
Esta actividade que vem sendo desenvolvida já desde alguns anos atrás pelo clube "Buraco de Agulha" no seio da comunidade ligada ao Instituto Português de Fotografia, como actividade extra-curricular e em iniciativa dinamizada por António Campos Leal. Formador no IPF tem estimulado e desafiado os interessados para uma prática mais intensa sendo ele mesmo produtor apaixonado deste tipo de processo alternativo. Processo em antítese ao processo digital, pela sua real aproximação aos velhos processos fotográficos, é pela utilização de suportes; papel fotográfico e película uma porta perfeita para que os que desconhecendo o "Processo Fotográfico" anseiam conhecer uma técnica que tem por base a razão elementar da formação da imagem.
Define-se como câmara estenopeica, aquela que não possuindo nenhum elemento óptico, permite que se forme uma imagem num plano colocado no trajecto interceptado por um orifício (estenopo), que substitui dessa forma o sistema óptico a que estamos habituados e que correntemente designamos de objectivas. Pensar-se que a objectiva é essencial para a formação da imagem é um erro. Pela técnica da Fotografia estenopeica é possível realizar imagens que correspondem a um regresso aos inícios da fotografia e em que o espírito criativo será propiciador de resultados deveras interessantes.
Dessa forma torna-se possível um melhor entendimento do processo, pois se a construção da própria câmara é trajecto de aprendizagem, cabe pois aos praticantes percorrer diferentes caminhos na concretização de projectos diversos, onde o próprio sistema digital pode ser incluído. Não deixa contudo de ser desafiador construir, a partir de caixas comuns de utilização variada, latas de bolachas, de chocolates, de tabacos, de... de... de... de qualquer coisa e pela aplicação de uma folha de alumínio sobre a qual se faz um furo de agulha a que a coloração preta transformará em utilizável "camara obscura" e em que posteriormente e pela colocação de papel fotográfico, o do tempo da alquimia, permitirá obter imagens de valor único.
Muitos séculos passaram sobre as diversas descobertas ligadas ao movimento da luz e da formação da imagem. Do século V a.C. chegaram-nos os primeiros escritos que referem o estenopo e o seus princípios básicos. Dos chineses se pode referir a sua descoberta de que a luz se propaga em linha recta. O filósofo chinês Mo Ti é mesmo o primeiro a constatar que a luz reflectida de um objecto forma uma imagem invertida sobre um plano ao atravessar um orifício. Contudo, a civilização ocidental através de Aristóteles, séc. IV a.C., na obra "Problemas", livro XV, 6, questiona do seguinte modo: " Porquê quando a luz atravessa um orifício quadrado, como por exemplo através de um trabalho de cestaria, não forma imagens quadradas?". Aristóteles levantou mais algumas questões sobre diversos fenómenos da Luz que permaneceriam mais algum tempo sem resposta. Será já no sec. X d.C. que o médico e matemático árabe Ibn Al-Haitam (Albazen), através de experimentações, verificou a formação de imagens, e a linearidade do trajecto da luz.
Alguns projectos de autor reflectem o valor da representação estética que à Fotografia Estenopeica deve ser atribuído. E, o entendimento de alguns na busca de uma definição tão próxima quanto possível da imagem produzida com o melhor dos sistemas ópticos, não me parece ser o mais importante da Fotografia Estenopeica. Caracteristicamente a imagem resultante da utilização de uma Câmara Estenopeica é o seu aspecto pontilhista e a existência de uma profundidade de campo que se pode entender como total.
A prática da Fotografia Estenopeica como área de acção pedagógica é só por si razão importante para uma divulgação intensa pois associado ao processo outras áreas podem ser parceiras de estímulos vários resultando numa aprendizagem enriquecida com componentes muitas vezes entediosas para os jovens.

Espaços na Rede a visitar:
muitos mais podiam ser indicados. Mas, a partir destes um mundo de informação está disponivel.

by António Campos Leal